Desconforto

Tenho um aperto no peito que não tem nome
Tenho um aperto que não sei o que é
Tenho um ruído constante de fundo
Um descompasso
Um desencaixe
Um incessante incômodo me lembrando de que ele está lá

Tenho uma sensação que não tem nome
Tenho um aperto em algum lugar
Tenho um som constante de fundo
Um desencanto
Um desagrado
Um incessante lembrete de tudo que não acontecerá

Tenho um nó na garganta que não se desfaz
Tenho um nó que ainda está lá
No ritmo constante do som incessante de fundo
Um desalento
Um desespero
Um transtorno que me deixa sem ar
Tenho um ruído que me faz me calar


Flor de concreto

Não sou fixa
Sou moldável
Maleável
Mas sem perder meu compasso

Sou constante
De uma forma
Mutável

Sou flor que cresce no chão de concreto
Na pequena fissura
Tomo forma

Cresço na chuva
No sol
Na neblina das manhãs gélidas
Nas intempéries cotidianas

Timidamente sobrevivo
Para alguns, invisível
Para os que veem mais de perto, resiliente

Entre tantas pessoas
e coisas e vidas e elementos
Sou a flor no concreto
Que, entre tantos caminhos
Escolheu ser flor

Oceano

Nos braços da ansiedade
Naufrago em meus medos
Sou refém dos anseios
Em um horizonte sem desejos

Nado a esmo
Sem remo
A imergir em pensamentos

Sou turva, fluida
Sou oceano inexplorado
Em águas que não sei nadar

Constantemente

A gente engole tanto sapo, tanta frustração, simplesmente por ser como somos.
A gente se acostuma a ouvir não, passa a temer o não, a odiar o que não tem.
A gente escuta que temos que mudar nosso jeito, que temos que ser igual fulano.
Somos constantemente criticados por não sermos igual a todos os outros, mas já tem tanta gente igual e vazia por aí.
Falta paixão, inspiração, falta autenticidade para todos que criticam nosso jeito diferente.
E aí é que tá.
O mundo já tem muita gente igual.

Um haicai

Rosa avermelhada
As pétalas que desabam
Colorem o chão

Plausível

Já faz tempo que não me sento e encaro a página em branco. Não foi por falta de ter o que desabafar, isso garanto. Mas tampouco venho aqui me explicar sobre o que fiz, falei ou – muito provavelmente – deixei de fazer nos últimos tempos. Sabe, o papel não me julga. E, diferente do mundo real, a luz branca e vazia não me amedronta.
Lá fora tudo é incerto, pesado e sufocante.
Aqui? Apenas meus pensamentos que – por fim! – podem ganhar vida. Não sou de dizer muitas palavras por aí. Aliás, tenho andando mais calada que de costume. Fechada em uma página, não em branco, mas com rascunhos, rasuras, ranhuras e dor... quanta dor.
Aqui posso ficar calada, se quiser. E ainda tenho a sua companhia. Ou não.
Um final plausível sempre me vem à mente. Charles Bukowski. Incompreendido como eu? Não sei. Com uma cacetada de problemas? Probably. Sempre penso que deveríamos ter este lugar para onde ir. Quando o peito não consegue se acalmar, quando a mente não consegue se calar, quando o mundo e tudo o que há nele se torna pesado demais. Quando a imensidão do lado de fora e a imensidão do lado de dentro são mais fortes que o vazio que eu tento ignorar.

Inquebrável

Acostumei-me a ser um alvo, a estar por baixo, a pensar que poderia ser pior. A acreditar que não merecia, que não conseguia, que nunca seria suficiente. Tive a autoestima esmagada, massacrada.
Me culparam por isso também.
Você deveria ser mais forte. Mais confiante. Falar mais alto. Mais incisiva. Mas eu estava quebrada e não podia juntar meus cacos. Demorou um tempo para entender que algumas pessoas sempre irão tentar pisar em você. Às vezes nem é pessoal, elas só precisam te pôr para baixo para se sentirem melhor. Custei a entender que essa era uma característica deles, e não minha.
Eu era eu, mesmo com minhas imperfeições. Com meus defeitos cruéis. Com meus monstros enraizados. Eu nunca precisei pisar em ninguém. Mesmo com meus medos, segui em frente. Mesmo com minhas inseguranças, continuei procurando o que quer que precisasse encontrar. E encontrei algumas coisas pelo caminho.
Continuei caminhando, um passo por vez.

© Marcas Indeléveis - 2014. Todos os direitos reservados.
Criado por: Andréa Bistafa.
http://i.imgur.com/wVdPkwY.png